A Salvação da lavoura!
Porteiras abertas para o Turismo Rural! |
Sou
do tempo que ser agricultor era uma oportunidade para poucos, eram eles os
responsáveis por toda nossa comida, nossa hortaliça fresca e rica em nutrientes.
Eram das lavouras pertinho de casa que vinha o arroz, o feijão, o milho e
outros tantos alimentos de nossa farta mesa. Isso tudo era vendido no armazém,
onde se podia colocar as mãos nos sacos de exposição, do feijão e do arroz, era
uma delicia enfiar os dedos por entre os grãos e brincar de cascata, despejando
devagarinho. O dono do armazém sempre colocava um pouquinho a mais para agradar
a freguesa, me dava uma fatia de mortadela, para eu poder saber que era fresca,
na verdade eu não saberia dizer a diferença, mas era assim que ele fazia com
meu pai e repetia comigo. Marcava tudo na “”””Cardeneta””””
a lápis, que era para poder corrigir se houvesse erros, se bem que nunca vi
reclamação, todos pagavam direitinho!!!!!!!!!
No
final do ano escolar ou no meio, nas férias, a melhor coisa era ir visitar meus
avós que moravam em uma fazenda em Piracicaba, interior de São Paulo, chegava
em casa e ficava contando as horas para meu pai chamar e irmos para aquele
paraíso.
A chegada
à fazenda já era uma aventura, uma viagem de duas horas uma parada no armazém
em Santana, uma vila próxima, para comprar pão uma iguaria muito rara e balas
para a criançada. Em geral chegávamos à noite e vinha meu avô, um italiano que
tinha dois metros de atura, nos receber com o lampião a querosene a única fonte
de luz artificial. Era muito difícil dormir naquela primeira noite.........
O
acordar era uma maratona, era sempre antes das cinco da manhã, para nós que
acordávamos em torno das sete era bem estranho, ao abrir os olhos já víamos a
sombra de meu avô andando pela casa com o lampião iluminando seus caminhos, era
engraçado, aquela casa não tinha forro, então podíamos participar de tudo que
acontecia.
Na
cozinha já estava minha avó com o fogão a lenha aceso e assava polenta na
chapa, que era servida com leite que meu tio tinha acabado de tirar da vaca.
Não
demorava muito já via as caras de meus primos aparecerem, tímidos, um a
um,....Um cumprimento quase que sumido e a espera para sair e
brincar.......assim passávamos o mês, pescando, jogando bola no pastinho, comendo
frutas no pé, correndo das vacas, almoçando arroz, feijão, ovo frito e salada
de tomate e alface fresquinha......tudo temperado com limão vinagre (ou limão
cravo), acompanhado de muito caldo de cana, a única produção da fazenda que não
era só para consumo, mas, para gerar renda.
Passava os outros seis meses contando minhas aventuras aos meus colegas de
escola, esperando as próximas férias.........fiz isso por muito anos!!!!!!!
O
tempo passou e o pequeno agricultor foi sumindo, vendendo suas terras indo morar
na periferia das grandes cidades. Hoje quem tem um pedaço de chão arrenda para grandes
usinas de cana de açúcar ou vende por não saber o que fazer. Plantar arroz e
feijão já não é mais uma forma de se ganhar a vida a renda não cobre os gastos.
Alguns anos atrás, assim que me formei Guia de Turismo, fui convidado para
fazer um curso novo em nossa região, aqui era a segunda turma e foi assim que
conheci Graziela Grecco e Ângela Barbieri Nigro, duas professoras do SENAR - Serviço
Nacional de Aprendizagem Rural. A simplicidade das duas escondia o conhecimento
que tinham na área do Turismo Rural, o curso que eu acabava de iniciar.
Esse curso é uma maneira de fixar o pequeno agricultor em sua
propriedade, já que ele agrega valor àquilo que já faz em seu cotidiano, só
acrescentando um fator que dá uma renda alternativa, simplificando, ele dá uma
oportunidade ao turista de participar de seu dia a dia, vivendo alguns dias no
campo ou só adquirindo produtos com mais valor agregado. Quem se lembra da
goiabada cascão que só a vovó sabia fazer? Quem almoçou frango com polenta e
comeu doce de figo de sobremesa? Quem tomou leite tirado na hora? Quem ouviu causos
de arrepiar a espinha, contado por um legítimo caipira?
Eu
tive essa oportunidade e agora visitando amigos por todo estado de São Paulo
vejo essa prática se espalhando, hortas orgânicas, fazendas de criação de pequenos
animais, bonecos de sabugo de milho, artesanato saindo de mãos mágicas e
calejadas de cuidar da lavoura.
Um
tempo atrás estive em Mococa, na terra do Café com Leite, história que faz
parte de nosso país, visitando a Fazenda Buracão de meu amigo Guto Nasser, lá
pude comprovar que dá resultado todo esse trabalho, passei um dia como nos bons
tempos de minha infância, mais tarde estivemos no centro da cidade com a Regina
Buzo minha adorada amiga caipira.....que faz questão de manter a tradição e ser
caipira com muito orgulho e nos mostrou a beleza que é Mococa, com seus
casarões preservados.
Para
os interessados em visitar propriedades assim, há lugares em Lins, Piracicaba,
Mococa, Vale do Ribeira e outros tantos espalhados por nosso estado, è
só se programar e curtir um dia saudável.