segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Turistas sejam bem-vindos!


Turistas sejam bem-vindos!

Turistas praticam caminhadas em locais preservados. 

Desde o início da movimentação turística, consta como Grécia antiga na época dos jogos Olímpicos, onde as pessoas se alojavam em casas de conhecidos, o turista é um ser bem-vindo. Na idade média recebidos em hospedarias, em geral mosteiros, conventos e depois em hotéis e pousadas, era sempre uma forma de se fazer um dinheiro, eram eles que traziam novidades e contavam as notícias. De um modo ou de outro era sempre bom receber turistas.
Na minha infância os turistas que eu conhecia eram meus parentes, tios e primos que vinham nos visitar na cidade de São Carlos, interior paulista, meu avô ainda mantinha o mesmo casarão do início do século XX, com seus quartos enormes e cheio de camas, numa imagem até sem nexo para uma casa vazia, onde moravam o casal, meus avós e uma tiavó, essa incoerência terminava com a chegada dos “turistas”. A casa lotava de tios, tias e primos, eram dez filhos, cônjuges e seus descendentes, era muito bom recebe-los.
Assim era também quando íamos a casa de meus avós paternos, uma propriedade rural na cidade de Piracicaba, sempre éramos recebidos com festa.
Baseado nessas informações escolhi estudar turismo, estar sempre de bem com todos e assim era na escola, uma das principais preocupações ao implantar um polo turístico era a participação da sociedade local no evento e a melhora na qualidade de vida dessa população. Assim também é no Turismo Rural, o tema de implantação do curso é ”Agregando Valor a Propriedade”. No meu modo de ver, também inclui qualidade de vida e bem estar do cidadão.
Essa semana recebi um comunicado de uma amiga questionando esses valores, era assim:-
Caríssimo Luis,
Vc. deveria viver um pouco aqui na região, assim poderia acompanhar o outro lado de XXXXXXXX, o dos moradores.
Vc. leu as reportagens dos jornais locais ultimamente, cheia de reclamações sobre o turismo na região?
Quem sabe ajudaria a refletir e compor um projeto não de turismo apenas visando o lucro dos donos de negócios, passando por cima das leis municipais, da educação social e sem acrescentar desenvolvimento social, respeito pela ecologia, educação em relação aos vizinhos dos negócios, respeito pelos moradores e seu direito ao sossego e descanso.
Pense nisso, turismo não pode ser feito sem reflexão.

             Nem preciso pensar tenho que concordar com a reclamação dela, o local em questão, conheço desde minha adolescência, quando eu e meus amigos acampávamos na região e depois no início da idade adulta, quando nadávamos nas cachoeiras formadas nos rios da região, época em que “se amarrava cachorro com linguiça”, quando nós deixávamos os carros com o som ligado na beira da estrada em ficávamos nadando nos riachos algumas dezenas de metros adiante.

Lugares que fizeram parte da história nem sempre são respeitados e chamam isso de arte.

              Essa tranquilidade de espaço rural foi a grande responsável pela vinda dos turistas. Uma região produtora de café no final do século XIX, com grande concentração de riqueza até o início do século XX e uma decadência mórbida após a desvalorização do café. A população local diminui em um terço e o mundo parou para aquela região.
No início dos anos oitenta, essa característica pacata da região foi o grande atrativo para a população carente de paz, foi o atrativo que levou a mudança de armazéns e pequenos bares em restaurantes sofisticados e elitizados, em ruas sem movimento para lugares de passagens de motos, jeeps e carros de luxo, virou o “”POINT”” da moda. Lugar em que parar em cima da calçada era luxo e a falta de educação uma norma geral “o poder do dinheiro se impondo aos moradores locais” ou a “Falta de educação de uns virando exemplo de vida saudável”.
         Nada justifica a invasão desordenada e destruidora do turismo, nem as restrições radicais impostas no litoral paulista, onde o turismo de um dia foi taxado com pesados tributos e colocado em praias desertas. Afinal temos o direito constitucional de ir e vir.
No meu ponto de vista a solução é normatizar, fiscalizar e a participação da sociedade local é de suma importância no processo, afinal são eles os maiores interessados na melhora da qualidade de vida. Um bom exemplo é Paraty – RJ, onde aconteceu esse mesmo processo de paralização no tempo, o que foi uma dádiva em termos de preservação.
A população Paratiense, isolou o centro histórico da cidade e tornou uma atração turística, só turista a pé entra nesse centro e assim a população tem uma oportunidade de usufruir desse local como forma de vida. Hoje Paraty é um dos maiores centros de eventos culturais e turísticos no Brasil.


Casarões de Mococa enfeitam a praça central.

             Com esses eventos podemos chegar a uma conclusão é muito importante a participação da sociedade local nos eventos turísticos e nas mudanças que possam ocorrer nas regiões com propensão turística. Se visitarmos locais como Sabino, interior de São Paulo, com “quase 6.000 habitantes” e na chegada já se percebe que é um local com tendência a ter um turismo organizado ou Vila Santa Olímpia em Piracicaba onde a população através do trabalho de Ivan Correr com a Rota Tirolesa, transformou a tradição tirolesa e seu modo de vida em atração turística, até Mococa , bem pertinho de Minas, onde a riqueza de seus casarões centenários podem ser tornar um marco na história futura da cidade ou pode ser um atrativo a especulação imobiliária. A participação do cidadão nesses eventos deveria se tornar uma bandeira e eles, moradores locais, decidirem qual é o futuro que querem deixar para seus filhos e netos.



Assinatura Luis Negri

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