Turistas sejam bem-vindos!
Turistas praticam caminhadas em locais preservados. |
Desde o início da
movimentação turística, consta como Grécia antiga na época dos jogos Olímpicos,
onde as pessoas se alojavam em casas de conhecidos, o turista é um ser
bem-vindo. Na idade média recebidos em hospedarias, em geral mosteiros,
conventos e depois em hotéis e pousadas, era sempre uma forma de se fazer um
dinheiro, eram eles que traziam novidades e contavam as notícias. De um modo ou
de outro era sempre bom receber turistas.
Na minha infância os
turistas que eu conhecia eram meus parentes, tios e primos que vinham nos
visitar na cidade de São Carlos, interior paulista, meu avô ainda mantinha o
mesmo casarão do início do século XX, com seus quartos enormes e cheio de camas,
numa imagem até sem nexo para uma casa vazia, onde moravam o casal, meus avós e
uma tiavó, essa incoerência terminava com a chegada dos “turistas”. A casa
lotava de tios, tias e primos, eram dez filhos, cônjuges e seus descendentes,
era muito bom recebe-los.
Assim era também quando
íamos a casa de meus avós paternos, uma propriedade rural na cidade de
Piracicaba, sempre éramos recebidos com festa.
Baseado nessas
informações escolhi estudar turismo, estar sempre de bem com todos e assim era
na escola, uma das principais preocupações ao implantar um polo turístico era a
participação da sociedade local no evento e a melhora na qualidade de vida dessa
população. Assim também é no Turismo Rural, o tema de implantação do curso é
”Agregando Valor a Propriedade”. No meu modo de ver, também inclui qualidade de
vida e bem estar do cidadão.
Essa semana recebi um
comunicado de uma amiga questionando esses valores, era assim:-
Caríssimo
Luis,
Vc. deveria viver um pouco aqui na região, assim poderia acompanhar o outro lado
de XXXXXXXX, o dos moradores.
Vc. leu as reportagens dos jornais locais ultimamente, cheia de reclamações
sobre o turismo na região?
Quem sabe ajudaria a refletir e compor um projeto não de turismo apenas visando
o lucro dos donos de negócios, passando por cima das leis municipais, da
educação social e sem acrescentar desenvolvimento social, respeito pela
ecologia, educação em relação aos vizinhos dos negócios, respeito pelos
moradores e seu direito ao sossego e descanso.
Pense nisso, turismo não pode ser feito sem reflexão.
Nem preciso
pensar tenho que concordar com a reclamação dela, o local em questão, conheço
desde minha adolescência, quando eu e meus amigos acampávamos na região e depois
no início da idade adulta, quando nadávamos nas cachoeiras formadas nos rios da
região, época em que “se amarrava cachorro com linguiça”, quando nós
deixávamos os carros com o som ligado na beira da estrada em ficávamos nadando
nos riachos algumas dezenas de metros adiante.
Lugares que fizeram parte da história nem sempre são respeitados e chamam isso de arte. |
Essa
tranquilidade de espaço rural foi a grande responsável pela vinda dos turistas.
Uma região produtora de café no final do século XIX, com grande concentração de
riqueza até o início do século XX e uma decadência mórbida após a desvalorização
do café. A população local diminui em um terço e o mundo parou para aquela
região.
No início
dos anos oitenta, essa característica pacata da região foi o grande atrativo
para a população carente de paz, foi o atrativo que levou a mudança de armazéns
e pequenos bares em restaurantes sofisticados e elitizados, em ruas sem
movimento para lugares de passagens de motos, jeeps e carros de luxo, virou o
“”POINT”” da moda. Lugar em que parar em cima da calçada era luxo e a
falta de educação uma norma geral “o poder do dinheiro se impondo aos moradores
locais” ou a “Falta de educação de uns virando exemplo de vida
saudável”.
Nada
justifica a invasão desordenada e destruidora do turismo, nem as restrições
radicais impostas no litoral paulista, onde o turismo de um dia foi
taxado com pesados tributos e colocado em praias desertas. Afinal temos o
direito constitucional de ir e vir.
No meu ponto
de vista a solução é normatizar, fiscalizar e a participação da sociedade local
é de suma importância no processo, afinal são eles os maiores interessados na
melhora da qualidade de vida. Um bom exemplo é Paraty – RJ, onde aconteceu esse
mesmo processo de paralização no tempo, o que foi uma dádiva em termos de
preservação.
A população
Paratiense, isolou o centro histórico da cidade e tornou uma atração turística,
só turista a pé entra nesse centro e assim a população tem uma oportunidade de
usufruir desse local como forma de vida. Hoje Paraty é um dos maiores centros de
eventos culturais e turísticos no Brasil.
Casarões de Mococa enfeitam a praça central. |
Com esses
eventos podemos chegar a uma conclusão é muito importante a participação da
sociedade local nos eventos turísticos e nas mudanças que possam ocorrer nas
regiões com propensão turística. Se visitarmos locais como Sabino, interior de
São Paulo, com “quase 6.000 habitantes” e na chegada já se percebe que é
um local com tendência a ter um turismo organizado ou Vila Santa Olímpia em
Piracicaba onde a população através do trabalho de Ivan Correr com a Rota
Tirolesa, transformou a tradição tirolesa e seu modo de vida em atração
turística, até Mococa , bem pertinho de Minas, onde a riqueza de seus casarões
centenários podem ser tornar um marco na história futura da cidade ou pode ser
um atrativo a especulação imobiliária. A participação do cidadão nesses eventos
deveria se tornar uma bandeira e eles, moradores locais, decidirem qual é o
futuro que querem deixar para seus filhos e netos.
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