terça-feira, 27 de dezembro de 2011


A Salvação da lavoura!
Porteiras abertas para o Turismo Rural!

    Sou do tempo que ser agricultor era uma oportunidade para poucos, eram eles os responsáveis por toda nossa comida, nossa hortaliça fresca e rica em nutrientes. Eram das lavouras pertinho de casa que vinha o arroz, o feijão, o milho e outros tantos alimentos de nossa farta mesa. Isso tudo era vendido no armazém, onde se podia colocar as mãos nos sacos de exposição, do feijão e do arroz, era uma delicia enfiar os dedos por entre os grãos e brincar de cascata, despejando devagarinho. O dono do armazém sempre colocava um pouquinho a mais para agradar a freguesa, me dava uma fatia de mortadela, para eu poder saber que era fresca, na verdade eu não saberia dizer a diferença, mas era assim que ele fazia com meu pai e repetia comigo. Marcava tudo na “”””Cardeneta”””” a lápis, que era para poder corrigir se houvesse erros, se bem que nunca vi reclamação, todos pagavam direitinho!!!!!!!!!
   No final do ano escolar ou no meio, nas férias, a melhor coisa era ir visitar meus avós que moravam em uma fazenda em Piracicaba, interior de São Paulo, chegava em casa e ficava contando as horas para meu pai chamar e irmos para aquele paraíso.
   A chegada à fazenda já era uma aventura, uma viagem de duas horas uma parada no armazém em Santana, uma vila próxima, para comprar pão uma iguaria muito rara e balas para a criançada. Em geral chegávamos à noite e vinha meu avô, um italiano que tinha dois metros de atura, nos receber com o lampião a querosene a única fonte de luz artificial. Era muito difícil dormir naquela primeira noite.........
   O acordar era uma maratona, era sempre antes das cinco da manhã, para nós que acordávamos em torno das sete era bem estranho, ao abrir os olhos já víamos a sombra de meu avô andando pela casa com o lampião iluminando seus caminhos, era engraçado, aquela casa não tinha forro, então podíamos participar de tudo que acontecia.
   Na cozinha já estava minha avó com o fogão a lenha aceso e assava polenta na chapa, que era servida com leite que meu tio tinha acabado de tirar da vaca.
    Não demorava muito já via as caras de meus primos aparecerem, tímidos, um a um,....Um cumprimento quase que sumido e a espera para sair e brincar.......assim passávamos o mês, pescando, jogando bola no pastinho, comendo frutas no pé, correndo das vacas, almoçando arroz, feijão, ovo frito e salada de tomate e alface fresquinha......tudo temperado com limão vinagre (ou limão cravo), acompanhado de muito caldo de cana, a única produção da fazenda que não era só para consumo, mas, para gerar renda.
   Passava os outros seis meses contando minhas aventuras aos meus colegas de escola, esperando as próximas férias.........fiz isso por muito anos!!!!!!!
   O tempo passou e o pequeno agricultor foi sumindo, vendendo suas terras indo morar na periferia das grandes cidades. Hoje quem tem um pedaço de chão arrenda para grandes usinas de cana de açúcar ou vende por não saber o que fazer. Plantar arroz e feijão já não é mais uma forma de se ganhar a vida a renda não cobre os gastos.
   Alguns anos atrás, assim que me formei Guia de Turismo, fui convidado para fazer um curso novo em nossa região, aqui era a segunda turma e foi assim que conheci Graziela Grecco e Ângela Barbieri Nigro, duas professoras do SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. A simplicidade das duas escondia o conhecimento que tinham na área do Turismo Rural, o curso que eu acabava de iniciar.
    Esse curso é uma maneira de fixar o pequeno agricultor em sua propriedade, já que ele agrega valor àquilo que já faz em seu cotidiano, só acrescentando um fator que dá uma renda alternativa, simplificando, ele dá uma oportunidade ao turista de participar de seu dia a dia, vivendo alguns dias no campo ou só adquirindo produtos com mais valor agregado. Quem se lembra da goiabada cascão que só a vovó sabia fazer? Quem almoçou frango com polenta e comeu doce de figo de sobremesa? Quem tomou leite tirado na hora? Quem ouviu causos de arrepiar a espinha, contado por um legítimo caipira?
     Eu tive essa oportunidade e agora visitando amigos por todo estado de São Paulo vejo essa prática se espalhando, hortas orgânicas, fazendas de criação de pequenos animais, bonecos de sabugo de milho, artesanato saindo de mãos mágicas e calejadas de cuidar da lavoura.
     Um tempo atrás estive em Mococa, na terra do Café com Leite, história que faz parte de nosso país, visitando a Fazenda Buracão de meu amigo Guto Nasser, lá pude comprovar que dá resultado todo esse trabalho, passei um dia como nos bons tempos de minha infância, mais tarde estivemos no centro da cidade com a Regina Buzo minha adorada amiga caipira.....que faz questão de manter a tradição e ser caipira com muito orgulho e nos mostrou a beleza que é Mococa, com seus casarões preservados.
      Para os interessados em visitar propriedades assim, há lugares em Lins, Piracicaba, Mococa, Vale do Ribeira e outros tantos  espalhados por nosso estado, è só se programar e curtir um dia saudável.